O escândalo que já era anunciado
Antes mesmo de as investigações recentes virem à tona e o escândalo de fraudes no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) se espalhar pela mídia nacional, servidores do próprio órgão já haviam tentado alertar as autoridades sobre as irregularidades. As denúncias não apenas foram ignoradas, como os denunciantes acabaram sendo punidos com transferências forçadas e exclusão de seus cargos de confiança.
Desde 2016, ainda durante o governo Temer, servidores públicos relataram repasses suspeitos de dinheiro público e descontos ilegais nos contracheques de aposentados. Mas, ao invés de ação, o que veio foi o silêncio e a punição para quem ousou denunciar.
Neste artigo, você vai entender o que foi denunciado, como os envolvidos agiram, quem se beneficiou com os esquemas e, principalmente, como isso afeta diretamente os brasileiros que dependem da previdência social.
Parte 1: O início das denúncias — 2016
Em 2016, um servidor do INSS, responsável por contratos da autarquia, denunciou à Polícia Federal o envio de recursos públicos para uma associação de peritos médicos. Segundo ele, os repasses eram suspeitos e envolviam uma diretora do próprio INSS que teria canalizado verbas de capacitação para uma entidade presidida por seu marido — e da qual ela mesma também fazia parte da direção.

O que foi denunciado?
- Transferência de recursos públicos para uma associação de peritos.
- Canalização do orçamento anual de capacitação do órgão para essa entidade.
- Reorganização interna que prejudicou equipes técnicas do INSS.
- Suposto conflito de interesse da diretora do INSS com a entidade beneficiada.
O mais grave foi o desfecho: em vez de apurar os fatos, o servidor foi punido. Ele foi transferido da Direção Central para uma unidade considerada sem função relevante, prática comum para silenciar denunciantes. Logo depois, a própria diretora denunciada foi promovida a um cargo superior no Ministério da Previdência.
“Era o lugar onde colocavam os que queriam apagar”, relatou o servidor sob anonimato.
Parte 2: Descontos ilegais nos contracheques de aposentados — 2020

Já em 2020, outra denúncia ganhou força, agora relacionada a descontos indevidos nos salários de aposentados e pensionistas. O caso envolveu a Conafer (Confederação Nacional de Agricultores Familiares e Empreendedores Familiares Rurais), que teve um crescimento surpreendente nas cobranças feitas via folha de pagamento do INSS.
O que aconteceu com a Conafer?
- Em 2019, os descontos somavam R$ 350 mil.
- Em 2020, subiram para impressionantes R$ 57 milhões.
- Crescimento de 16.185% em plena pandemia.
As denúncias, desta vez feitas à Polícia Civil do DF em conjunto com o Ministério Público, indicaram que aposentados estavam sendo lesados por filiações forçadas e descontos sem autorização em nome da associação.
Além disso, houve relatos de ameaças contra servidores do INSS que tentaram cortar os repasses.
Parte 3: A inércia das instituições e o silêncio das autoridades
Apesar da gravidade das denúncias e da documentação apresentada, os casos acabaram arquivados ou ignorados. Em 2020, a Polícia Civil do DF e o MPDFT pediram autorização judicial para uma operação contra o então presidente do INSS, Leonardo Rolim, e a Conafer. O juiz responsável, no entanto, negou o pedido, enviando o caso para instâncias superiores, onde até hoje pouco (ou nada) aconteceu.
Não houve investigação efetiva por parte da Polícia Federal nem do Ministério Público Federal.

Parte 4: O escândalo explode — 2024 e 2025
Foi somente em abril de 2025 que o caso ganhou repercussão nacional. A Operação Sem Desconto, da Polícia Federal e da Controladoria-Geral da União (CGU), cumpriu 211 mandados e prendeu seis pessoas envolvidas com os desvios.
As investigações mostraram um esquema bilionário de fraudes dentro do INSS, com envolvimento de associações e servidores públicos.
Consequências imediatas:
- Demissão do presidente do INSS, Alessandro Stefanutto.
- Saída do ministro da Previdência, Carlos Lupi.
- Anúncio de medidas para reembolsar aposentados prejudicados.
Ainda assim, o cenário é de desconfiança. Muitos brasileiros se perguntam como um esquema desse tamanho passou tantos anos sem ser combatido — e a resposta pode estar exatamente nas denúncias ignoradas no passado.
A impunidade dos poderosos e o abandono dos servidores honestos
Um dos aspectos mais revoltantes é o fato de que servidores que tentaram cumprir seu dever foram perseguidos, transferidos ou simplesmente apagados do sistema. Enquanto isso, os envolvidos nas irregularidades foram promovidos, protegidos e continuaram influenciando políticas públicas.
“Os denunciantes foram colocados para escanteio. Alguns perderam seus cargos. Outros passaram a ser alvos de assédio institucional”, conta um ex-funcionário da autarquia.
O impacto direto no bolso dos aposentados
Milhares de aposentados e pensionistas viram seus benefícios reduzidos por descontos indevidos, em nome de associações às quais nunca se filiaram. O prejuízo é estimado em bilhões de reais e atinge justamente a camada mais vulnerável da população.
FAQ – Perguntas e Respostas
1. O que foi denunciado em 2016 no INSS?
Um servidor relatou que recursos do INSS estavam sendo desviados para uma associação de peritos da qual a diretora do órgão fazia parte. O valor vinha do orçamento de capacitação dos servidores e a denúncia envolvia conflito de interesse.
2. Por que os servidores foram punidos?
Os denunciantes foram removidos de suas funções, muitos perderam cargos estratégicos e foram transferidos para setores sem relevância. Isso aconteceu para que suas vozes fossem silenciadas e as denúncias abafadas.
3. O que aconteceu com as denúncias de 2020?
A investigação sobre descontos indevidos feitos pela Conafer chegou a envolver a Polícia Civil e o Ministério Público. Mas a Justiça negou a operação, e o caso acabou encaminhado à PF, onde não houve avanços.
4. Como os aposentados foram prejudicados?
Aposentados de todo o Brasil foram surpreendidos com descontos indevidos em seus contracheques, sem qualquer autorização prévia. As filiações eram realizadas de forma irregular, e o prejuízo é bilionário.
5. O que foi feito após a Operação Sem Desconto?
Após a operação da PF e da CGU, seis pessoas foram presas, e houve demissões nas esferas superiores do INSS e do Ministério da Previdência. O governo atual promete ressarcir os lesados, mas ainda não detalhou como.
6. O que pode acontecer daqui pra frente?
Espera-se que os responsáveis sejam processados e que os aposentados recebam reembolso. No entanto, o histórico de impunidade e silêncio institucional preocupa especialistas e servidores que acompanham o caso.
7. Como evitar novas fraudes no INSS?
Maior transparência nos contratos, auditorias regulares, proteção aos denunciantes e punições rigorosas para gestores envolvidos são algumas das medidas apontadas como essenciais para prevenir novos escândalos.
Conclusão: Justiça para quem trabalhou honestamente
O caso das fraudes no INSS mostra um retrato doloroso do serviço público: quando servidores agem com ética e denunciam irregularidades, são punidos. Quando políticos e gestores desviam dinheiro, são promovidos ou protegidos.
É preciso repensar as estruturas de fiscalização e controle do Estado. Os verdadeiros culpados precisam ser responsabilizados, e os aposentados — que sustentaram este país com seu trabalho — devem ser tratados com respeito e dignidade.
Todas as imagens deste artigo são de autoria de Lula Marques/Agência Brasil
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