Um grave acidente envolvendo um ônibus do transporte coletivo e um carro deixou duas pessoas feridas na manhã desta segunda-feira (2), em Montes Claros, no Norte de Minas Gerais. A colisão ocorreu em um cruzamento de ruas no bairro São José, segundo informações do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). As causas da batida ainda não foram divulgadas pelas autoridades competentes.
De acordo com o Samu, as vítimas são passageiros do ônibus da linha 5802, que fazia o trajeto entre o bairro Vila Sion II e a rodoviária de Montes Claros — uma das rotas mais movimentadas do transporte coletivo local. Um homem, de 65 anos, sofreu suspeita de fratura na clavícula e apresentava dores na região cervical, enquanto uma mulher, de 59 anos, queixava-se de dores intensas na pelve. Ambas foram socorridas no local e, em seguida, encaminhadas para o Hospital Universitário Clemente de Faria, onde receberam atendimento especializado.
O motorista do carro, um homem de 40 anos, teve um ferimento superficial no rosto, mas recusou o transporte hospitalar.
Segundo relatos de moradores e testemunhas, o cruzamento onde ocorreu o acidente é considerado perigoso pela ausência de sinalização adequada e pelo fluxo intenso de veículos em horários de pico. O local ficou interditado por alguns minutos, gerando congestionamento e transtornos para os motoristas que transitavam pela região.
Equipes da Polícia Militar e agentes da Secretaria Municipal de Trânsito e Transportes (Settran) foram acionadas para controlar o tráfego e realizar os procedimentos legais de praxe.
Grave acidente: O estado de saúde das vítimas
Até o fechamento desta reportagem, o estado de saúde das vítimas não havia sido atualizado pelo Hospital Universitário. A equipe médica informou que ambas estavam conscientes e orientadas no momento do socorro, mas o quadro clínico inspirava cuidados devido à gravidade dos ferimentos.
Linha 5802: impacto na rotina dos passageiros
O ônibus envolvido no acidente pertence à linha 5802, que conecta o bairro Vila Sion II à rodoviária da cidade, passando por importantes vias e atendendo centenas de passageiros diariamente. Não houve registro de outros feridos entre os ocupantes do ônibus, e, até o momento, a empresa responsável pelo transporte coletivo ainda não se manifestou oficialmente sobre o ocorrido.
Não se sabe se haverá alteração no itinerário da linha ou mudanças nos horários em decorrência da colisão.
Análise: Acidente evidencia pontos críticos do trânsito em Montes Claros
O acidente desta segunda-feira é mais um episódio que chama atenção para os sérios problemas estruturais e de planejamento do trânsito em Montes Claros. A cidade, que conta com uma frota estimada em mais de 170 mil veículos, enfrenta desafios históricos relacionados à falta de sinalização adequada, ausência de fiscalização eficiente e precariedade na infraestrutura viária.
A região do bairro São José, onde ocorreu o acidente, é apontada pelos moradores como um dos diversos pontos críticos da cidade. O cruzamento onde aconteceu a colisão não conta com semáforos nem faixas de pedestre bem demarcadas, o que favorece a ocorrência de acidentes, especialmente em horários de maior movimento.
O crescimento populacional e a sobrecarga no sistema viário
Montes Claros é considerada a maior cidade do Norte de Minas, com mais de 450 mil habitantes. O crescimento populacional nas últimas décadas não foi acompanhado por investimentos proporcionais na infraestrutura de trânsito. Ruas estreitas, asfaltamento precário e falta de planejamento urbano adequado são elementos que agravam o risco de acidentes, como o ocorrido nesta segunda-feira.
De acordo com dados do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), Montes Claros possui um dos maiores índices de veículos por habitante em Minas Gerais, o que pressiona ainda mais as vias urbanas, especialmente nos horários de pico, entre 7h e 9h da manhã e 17h e 19h.
Além disso, o sistema de transporte coletivo, embora essencial, sofre com problemas como superlotação, veículos antigos e falta de integração com outros modais, o que faz com que muitas pessoas optem pelo transporte particular, contribuindo para o aumento do fluxo de veículos e, consequentemente, dos riscos de colisões.
Pontos críticos do trânsito em Montes Claros
Especialistas em mobilidade urbana e representantes da sociedade civil identificam diversos pontos críticos no trânsito de Montes Claros que necessitam de intervenções urgentes. Entre eles destacam-se:
- Avenida Deputado Esteves Rodrigues (Sanitária): um dos corredores mais movimentados da cidade, que frequentemente apresenta congestionamentos e registros de acidentes.
- Trevo da BR-135 com a Avenida Sidrim Antunes: local com histórico de colisões graves, especialmente envolvendo motociclistas.
- Cruzamento da Avenida João XXIII com a Rua Lírio Brant: conhecido pela falta de semáforos e pelo excesso de velocidade.
- Bairro São José: onde ocorreu o acidente desta segunda-feira, marcado por cruzamentos perigosos e ausência de sinalização horizontal e vertical adequada.
A ausência de planejamento para melhorar a fluidez do trânsito e aumentar a segurança nesses pontos é uma das principais críticas feitas por especialistas e moradores.
O impacto da falta de sinalização e fiscalização
Em muitos bairros da cidade, a falta de placas de sinalização, lombadas, faixas de pedestre e semáforos torna o trânsito ainda mais perigoso. No caso específico do bairro São José, moradores relatam que o cruzamento onde ocorreu a colisão já foi palco de outros acidentes, inclusive com vítimas fatais.
“A gente já fez abaixo-assinado, pediu para colocarem um semáforo ou pelo menos uma lombada, mas nada foi feito. Agora, mais uma vez, pessoas ficaram feridas”, lamentou Maria das Graças Souza, moradora do bairro há mais de 20 anos.
Além da falta de sinalização, a fiscalização de trânsito também é considerada ineficiente. Com poucos agentes nas ruas, muitas infrações acabam passando despercebidas, contribuindo para a ocorrência de acidentes.
O papel da educação no trânsito
Outro fator relevante para a redução de acidentes é o investimento em educação no trânsito. Segundo especialistas, campanhas educativas permanentes são fundamentais para conscientizar motoristas, motociclistas, ciclistas e pedestres sobre a importância do respeito às normas de circulação.
Em Montes Claros, embora a Settran realize algumas campanhas pontuais, a ausência de uma política contínua e integrada de educação no trânsito é apontada como uma falha grave.
A necessidade de políticas públicas efetivas
Para especialistas em mobilidade urbana, a solução para os problemas estruturais do trânsito de Montes Claros passa pela adoção de políticas públicas efetivas, que envolvam:
- Investimentos em infraestrutura viária: com a ampliação e requalificação das vias urbanas, instalação de semáforos, lombadas e faixas de pedestres nos pontos críticos.
- Fortalecimento da fiscalização: com a ampliação do efetivo de agentes de trânsito e a utilização de tecnologias como radares e câmeras de monitoramento.
- Reestruturação do transporte público: com a renovação da frota de ônibus, criação de faixas exclusivas e integração com outros modais, como bicicletas e transporte alternativo.
- Educação para o trânsito: com campanhas permanentes de conscientização, especialmente voltadas para jovens e motoristas profissionais.
- Participação social: incentivando a população a participar ativamente das discussões sobre mobilidade urbana e segurança viária.
O papel do poder público e a cobrança da sociedade
Apesar das constantes denúncias e reivindicações da sociedade civil organizada, as ações do poder público ainda são consideradas tímidas e insuficientes para enfrentar os desafios do trânsito em Montes Claros.
O arquiteto e urbanista José Henrique Silva, especialista em mobilidade urbana, afirma que a cidade está em um “limite perigoso”. Segundo ele, “a frota cresce a cada ano, mas não há planejamento urbano compatível. Os acidentes são reflexo direto desse descaso”.
Moradores, como o autônomo Rodrigo Oliveira, que presenciou o acidente desta segunda-feira, reforçam o apelo por mudanças. “Infelizmente, só tomam providência depois que acontece uma tragédia. Esse cruzamento já deveria ter sido sinalizado há anos.”
Acidentes de trânsito: uma epidemia silenciosa
De acordo com dados da Polícia Militar de Minas Gerais, Montes Claros registra, em média, mais de 1.500 acidentes de trânsito por ano, sendo uma das cidades com maior índice de sinistros no interior do estado.
O levantamento mais recente apontou que a maioria desses acidentes ocorre em cruzamentos mal sinalizados e envolve motociclistas, motoristas de carros e, em menor escala, pedestres.
Além das perdas humanas, os acidentes geram um alto custo social e econômico, com gastos públicos relacionados ao atendimento médico, remoção de veículos, reparos na infraestrutura urbana e processos judiciais.
Reflexão: um acidente que poderia ter sido evitado
O acidente desta segunda-feira é mais um alerta sobre a urgência de repensar a mobilidade urbana em Montes Claros. Embora as investigações sobre as causas da colisão ainda estejam em andamento, a falta de infraestrutura adequada no local é um fator que, certamente, contribuiu para o ocorrido.
É preciso que as autoridades municipais, estaduais e a sociedade civil se unam para implementar soluções efetivas e transformar Montes Claros em uma cidade mais segura, acessível e com qualidade de vida para todos.
Enquanto isso não acontece, motoristas, pedestres e passageiros seguem vulneráveis aos riscos diários de um trânsito que, há anos, clama por mudanças estruturais profundas.
Fonte: g1 Grande Minas
Foto: Samu/Reprodução
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