A enchente no Texas deste fim de semana virou o assunto mais comentado nas redes sociais — e não é para menos. Em menos de duas horas, o Rio Guadalupe saiu do leito, engoliu acampamentos inteiros e causou uma tragédia que já soma 24 mortes confirmadas e pelo menos 23 meninas desaparecidas. O cenário lembra, quase ponto por ponto, o desastre de 1987 que inspirou o filme “Enchente: Quem Salvará Nossos Filhos?”
Enchente no Texas:A enxurrada que chegou sem pedir licença
Imagine acordar com a chuva forte, pensar que é só mais uma tempestade de verão e, minutos depois, ver a água avançar quase sete metros. Foi exatamente isso que aconteceu na madrugada de sexta‑feira (4). Segundo o Serviço Nacional de Meteorologia dos Estados Unidos, o nível do Rio Guadalupe subiu 6,7 m em apenas 120 minutos; o medidor parou de funcionar quando atingiu 9 m .
Para quem vive na região conhecida como “corredor de enchentes”, a lógica é dura: o solo arenoso não absorve bem a água e tudo escorre “morro abaixo” — palavras de Austin Dickson, diretor da Community Foundation of the Texas Hill Country
As vítimas: a dor que se repete
O caso mais dramático envolve o Camp Mystic, um retiro cristão à beira do rio. As instalações foram simplesmente levadas pela correnteza. Ao todo, 23 adolescentes que participavam do acampamento continuam desaparecidas. “O acampamento foi totalmente destruído. Foi apavorante”, contou Elinor Lester, de 13 anos, uma das sobreviventes. Equipes de resgate mobilizaram 14 helicópteros, 12 drones e quase 400 socorristas. Até agora, 237 pessoas foram resgatadas com vida .
Lembrança amarga de 1987
Se o enredo parece familiar, é porque a enchente de 1987, também no Rio Guadalupe, matou dez jovens de um acampamento cristão. A história virou filme, foi exibida incontáveis vezes na Sessão da Tarde e nunca saiu da memória dos moradores. Quase quatro décadas depois, o drama volta a assombrar o Texas — agora com números ainda mais altos e imagens que correm o mundo em tempo real.

Rastro de destruição: de casas a estradas
Quem passa pela região hoje vê pontes retorcidas, trechos de estrada cobertos de lama e carros empilhados como brinquedos. A força da água foi tanta que um ônibus e uma van foram arrastados, repetindo o roteiro de 1987.
As autoridades declararam estado de emergência. O vice‑governador Dan Patrick pediu orações; já o governador Greg Abbott publicou um vídeo em que um socorrista é içado de helicóptero com uma vítima agarrada à árvore. Em Washington, o presidente Donald Trump classificou as cenas como “terríveis” e prometeu apoio federal.
Por que chove tanto ali?
Pode parecer estranho falar de enchentes em pleno Texas, ainda mais em julho, mas a explicação é simples: o Hill Country, região de colinas de calcário, forma uma espécie de calha. Quando frentes frias vindas do Golfo colidem com o ar quente do interior, criam tempestades quase estacionárias. Resultado? Chuva concentrada em curto prazo — a receita perfeita para enchentes repentinas.
Previsão nada animadora
O alerta de mau tempo continua até domingo. Meteorologistas avisam que novos temporais podem elevar novamente o nível do rio. Para quem perdeu tudo, a prioridade agora é encontrar desaparecidos, providenciar abrigos e avaliar os estragos em pontes e rodovias. Falta luz em várias localidades, e mais de duas mil casas permanecem sem água potável.
Solidariedade que atravessa fronteiras
Organizações como a Cruz Vermelha e igrejas locais abriram centros de doação. Já surgem campanhas de arrecadação online que reúnem brasileiros nos Estados Unidos, dispostos a enviar mantimentos e roupas. “Quando a água baixa, começa a parte mais difícil: reconstruir a vida”, diz Ana Silva, enfermeira mineira que mora em San Antonio há cinco anos e se ofereceu para ajudar nos abrigos.
Pode acontecer de novo?
Infelizmente, sim. O especialista Bob Fogarty lembra que o Texas lidera o ranking americano de mortes por enchentes repentinas. Sistemas de alerta foram ampliados desde 1987, mas a velocidade da água ainda surpreende. A pergunta que fica é: quantas tragédias são necessárias para que sirenes e rotas de evacuação sejam prioridade absoluta?
No Brasil, lições a aprender
Aqui do lado de cá, não é raro ver enchentes no Sul e no Sudeste causarem estragos parecidos. A Defesa Civil brasileira monitora o caso de perto, porque fenômenos como La Niña e El Niño podem alterar padrões de chuva em todo o continente. Estudos da Universidade Federal de Viçosa mostram que o desmatamento e a impermeabilização do solo agravam esse tipo de desastre — problema que conhecemos bem nos grandes centros.
Memória, prevenção e esperança
Histórias como a do Rio Guadalupe nos lembram que a natureza não marca hora para dar o troco. Mas também mostram como a solidariedade, a ciência e a prevenção podem salvar vidas. Daqui, resta torcer para que as buscas encontrem as meninas desaparecidas e que lições sejam tiradas, antes que outra tempestade transforme lembranças dolorosas em manchetes.
Fonte: g1.globo
Helicóptero sobrevoa o Rio Guadalupe, no Texas, após enchentes — Foto Capa: Eric Gay/AP/Reprodução
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