Na tarde desta terça-feira (10), o ex-presidente Jair Bolsonaro voltou ao centro das atenções. Em depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF), ele negou ter planejado qualquer tentativa de golpe de Estado após perder as eleições de 2022. E mais: pediu desculpas aos ministros da Corte pelas declarações passadas e pelas desconfianças lançadas contra o sistema eleitoral.
Sim, você leu certo. Bolsonaro pediu desculpas. E negou, com todas as letras, que tenha articulado qualquer medida fora da Constituição. A fala aconteceu no contexto do inquérito no qual ele é réu, acusado de envolvimento em uma suposta trama para reverter o resultado das eleições por meios ilegais.
“Nunca pensei em nada fora da Constituição”, diz Bolsonaro
Durante o depoimento, Bolsonaro fez questão de destacar que as discussões que teve com membros de seu governo após a derrota nas urnas tinham como foco uma resposta ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que não havia aceitado uma ação de seu partido, o PL, contra o resultado da eleição presidencial. E, para piorar, ainda aplicou uma multa de R$ 22 milhões à legenda.
Segundo o ex-presidente, isso gerou indignação no grupo, mas nenhuma dessas conversas teria evoluído para um plano real de golpe. Ele também negou ter mexido no conteúdo da famigerada “minuta do golpe”, documento encontrado pela Polícia Federal, que supostamente detalhava uma possível intervenção militar para anular o resultado eleitoral.

“A culpa foi do advogado”
Uma parte que chamou a atenção foi quando Bolsonaro tentou explicar por que a minuta foi encontrada justamente no seu gabinete, na sede do PL. A resposta? Ele culpou seu advogado. Disse que o documento estava lá por responsabilidade do defensor e que não havia sido validado por ele. Uma justificativa que, convenhamos, levanta mais dúvidas do que esclarecimentos.
Mauro Cid diz uma coisa, Bolsonaro diz outra
A fala do ex-presidente vai na contramão do que afirmou, um dia antes, o tenente-coronel Mauro Cid. Ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Cid tem colaborado com a Justiça por meio de uma delação premiada e relatou que o então presidente teria, sim, editado a minuta do golpe e apresentado a proposta aos comandantes militares.
Bolsonaro, por sua vez, negou tudo. Disse que jamais propôs prender autoridades ou agir fora das quatro linhas da Constituição. A divergência entre os depoimentos pode ser decisiva no avanço do processo.
Sobre as urnas e a PRF: mais negativas
Como já fez várias vezes desde que deixou o cargo, Bolsonaro voltou a dizer que nunca teve provas de fraudes nas eleições. Ele admitiu que o discurso de desconfiança foi parte de sua “narrativa”, e reforçou que ainda acredita que o sistema pode – e deve – ser aperfeiçoado. Mas, pela primeira vez, reconheceu que não havia qualquer base concreta para sustentar suas acusações.
Quanto à atuação da Polícia Rodoviária Federal (PRF), que no segundo turno foi acusada de fazer operações que teriam atrapalhado eleitores do Nordeste, Bolsonaro também negou qualquer envolvimento ou conhecimento sobre o assunto.
O encontro com o hacker e Zambelli
Outro ponto curioso do depoimento foi quando o ex-presidente confirmou que se encontrou com a deputada Carla Zambelli e com o hacker Walter Delgatti Neto. Os dois estiveram envolvidos em polêmicas sobre a segurança das urnas eletrônicas. Bolsonaro disse que, após ouvir o que tinham a dizer, não se convenceu e recomendou que procurassem o Ministério da Defesa.
Parece até cena de série política: ex-presidente, deputada e um hacker discutindo o sistema eleitoral. Mas foi real.
General Paulo Sérgio também depõe e nega apoio a golpe
No mesmo dia, o general Paulo Sérgio Nogueira, que foi ministro da Defesa durante o governo Bolsonaro, também prestou depoimento. Ele negou ter participado de qualquer discussão sobre golpe, mas confirmou que Bolsonaro apresentou ideias de intervenção — que foram, segundo ele, prontamente descartadas pelos comandantes das Forças Armadas.
Paulo Sérgio também se desculpou com o ministro Alexandre de Moraes, relator do processo no STF, pelos ataques que fez no passado ao sistema eleitoral e ao TSE. Ele deixou claro que o relatório das Forças Armadas sobre a segurança das urnas não foi influenciado pelo então presidente da República.
Afinal, o que tudo isso significa?
Para muitos brasileiros, esse episódio levanta uma pergunta importante: o que está por trás desse tom mais “conciliador” de Bolsonaro? É difícil cravar. Pode ser uma estratégia de defesa, uma tentativa de aliviar a pressão da Justiça, ou até mesmo uma forma de preparar o terreno para o futuro político — quem sabe, uma tentativa de voltar ao jogo.
O fato é que, aos poucos, o ex-presidente tem ajustado seu discurso. Depois de anos de embate direto com o STF e críticas constantes ao sistema eleitoral, agora o tom é outro. Mais calmo, mais contido. Mas será que isso convence?
De qualquer forma, as investigações continuam, e os próximos passos da Justiça vão mostrar se as desculpas e negativas serão suficientes ou não.
Enquanto isso, a gente segue acompanhando. Porque, como dizem por aí, “o Brasil não é para amadores” — e a política, então, muito menos.
Fonte: agenciabrasil.ebc
Foto Destaque: Gustavo Moreno/STF
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