Marcha Internacional das Mulheres: Foco na Economia Feminista e Defesa das Estatais em Minas Gerais
Mobilização Feminina em Tempos de Crise
A Marcha Internacional das Mulheres, em sua 6ª edição, está prestes a ganhar força nas ruas de Minas Gerais. Comemorando 25 anos de luta, o evento promete dar voz a um tema extremamente relevante: a "economia feminista". Nesta edição, as organizadoras destacam que não se trata apenas de discutir remunerações e jornadas de trabalho, mas de valorizar todo o conhecimento e habilidades que as mulheres trazem na construção de uma sociedade mais justa.
Na última quinta-feira, 14 de agosto, a Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) se reuniu para traçar estratégias de mobilização. O lema deste ano, “Mulheres em marcha contra as guerras e o capitalismo, em defesa da soberania popular e do bem-viver”, reflete a urgência de unir forças frente a um cenário político e econômico desafiador, especialmente no que diz respeito às privatizações promovidas pelo governo de Romeu Zema.
A Economia Feminista em Debate
Míriam Nobre, da Executiva Nacional da Marcha das Mulheres, ressaltou a importância de compreender que as desigualdades salariais e as condições de trabalho das mulheres são temas que não podem ser mais ignorados. Ela enfatizou que “é preciso reconhecer que as mulheres ganham menos e que, mesmo assim, trabalham mais, especialmente quando se considera o trabalho de cuidado”. As vozes desse movimento buscam quebrar barreiras e trazer à tona a relevância de reconhecer as contribuições das mulheres para a economia, não apenas no âmbito corporativo, mas nas atividades informais e familiares.
Para Nobre, é essencial que as políticas públicas levem em conta os saberes das mulheres que estão na linha de frente, plantando e colhendo produtos que alimentam miles de famílias. "O feijão, por exemplo, não é apenas um produto agrícola. Ele é parte da cultura e da economia de muitas mulheres que o cultivam e o transformam em alimento.”
Bernadete Monteiro, também da Executiva Nacional, complementou afirmando que a Marcha, junto a outros movimentos sociais, planeja realizar um plebiscito popular. A proposta é a deliberação sobre o fim da jornada de trabalho 6X1 e a taxação das grandes fortunas, uma ação que visa ampliar os direitos dos trabalhadores e garantir uma divisão mais justa da riqueza.
Privatizações: Um Alvo Crítico
Um dos temas centrais nesta mobilização em Minas Gerais é a resistência às privatizações propostas pelo governo Zema. Segundo as participantes, essas ações não apenas ameaçam a prestação de serviços essenciais, mas também afetam desproporcionalmente as mulheres, especialmente aquelas que pertencem a grupos vulneráveis e são mais dependentes de serviços públicos.
Bernadete Monteiro adverte que a privatização de serviços como energia e saneamento pode agravar a desigualdade social, trazendo um impacto devastador para as mulheres, que são as maiores responsáveis pelo cuidado da casa e da família. “Esses serviços não devem ser tratados como mercadorias. A saúde e o saneamento são direitos de todos e não privilégios de poucos”, pontuou.
Dehonara Silveira, do Sindicato dos Trabalhadores da Saúde, lembrou que, devido a essas privatizações, o tempo de espera para atendimentos médicos tem aumentado, resultando em sequelas graves para a população. “Quem cuida das pessoas adoecidas? As mulheres. Por isso, essa é uma luta das mulheres”, afirma Dehonara, referindo-se ao fechamento do Hospital Maria Amélia Lins que, segundo ela, deixou um moderno bloco cirúrgico sem uso.
As vozes contra a privatização se uniram nessa mobilização. Denise Borges Ferreira, do Sindieletro MG, destacou que as privatizações representam um ataque aos direitos humanos, negando serviços essenciais à população e deteriorando o patrimônio mineiro.
Encontros e Trocas: O Poder da União
A Marcha Internacional não é apenas uma série de eventos, mas um espaço de troca de experiências entre mulheres de diferentes realidades. Isso foi enfaticamente destacado pelas participantes durante a reunião da ALMG. A força desse encontro não reside apenas nas pautas que são levantadas, mas também na capacidade de construir um movimento mais coeso e abrangente.
Uma das participantes, Sílvia Maria Ferreira, do Sindágua, lembrou que o governador tem se recusado a realizar um plebiscito sobre a venda das estatais, um passo considerado crucial para garantir a participação popular nas decisões que afetam a vida de todos. “A sociedade precisa ser ouvida, e o plebiscito é uma forma de reafirmar nossos direitos,” enfatizou.
Além disso, representantes de diversos movimentos sociais, como o Movimento Atingidos por Barragens (MAB) e o Levante Popular da Juventude, advertiram sobre outras ameaças sociais, como o impacto negativo das mineradoras. “Nossa tarefa é enfrentar os inimigos da classe trabalhadora e garantir que os direitos de todos sejam respeitados,” afirmou Camila Miranda, integrante do Levante.
Conclusão: Avançando Juntos
A Marcha Internacional das Mulheres em Minas Gerais se apresenta como um marco que não apenas debate as desigualdades de gênero na economia, mas também luta ativamente contra as privatizações que ameaçam o acesso a direitos básicos. Com a união de diversas vozes femininas e a articulação de movimentos sociais, o evento promete fortalecer a resistência e trazer à tona a discussão necessária sobre a valorização do trabalho das mulheres e a preservação dos serviços públicos essenciais.
A mobilização conclama a sociedade a se unir em defesa de um futuro mais justo, onde todos tenham acesso aos direitos fundamentais, independentemente do gênero. A marcha se aproxima, e a expectativa é de que as vozes das mulheres ecoem forte, marcando seu espaço e reivindicando o que é seu por direito.