Ministra do STJ: O julgamento de um dos casos mais sensíveis da tragédia de Brumadinho, ocorrida em 2019, teve um capítulo tenso nesta quarta-feira (11), no Superior Tribunal de Justiça (STJ). A ministra Nancy Andrighi surpreendeu ao criticar duramente a Defensoria Pública de Minas Gerais, que apoiou a posição da mineradora Vale sobre o termo de compromisso firmado com as vítimas do desastre.
Mas por que isso causou tanta polêmica? Vamos explicar de forma simples.
Ministra do STJ: O que está em jogo nesse julgamento?
Imagine o seguinte: você faz um acordo com alguém que te causou um prejuízo enorme, como a perda de um familiar ou a destruição da sua casa. Esse acordo, chamado de “termo de compromisso”, deveria garantir que você pudesse receber uma indenização sem precisar brigar na Justiça, certo?
O problema é que agora está se discutindo se esse documento realmente tem força legal suficiente para que as vítimas entrem direto na Justiça pedindo o cumprimento do acordo — ou se ele serve apenas como uma promessa informal.
A Defensoria Pública de Minas, que assinou esse termo com a Vale em 2019, surpreendeu ao dizer que o documento não tem valor de título executivo extrajudicial. Em outras palavras, para a Defensoria, ele não serviria como base legal para obrigar a Vale a pagar o que prometeu.
Ministra se revolta com posicionamento da Defensoria
Durante a sessão, a ministra Nancy Andrighi ficou claramente incomodada com essa postura. Ela chegou a perguntar, visivelmente chocada:
“A Defensoria disse que o termo assinado com a Vale não é um título executivo? É isso mesmo?”
E não parou por aí. Quando o microfone já não estava oficialmente com ela, mas ainda captando áudio, a ministra foi mais direta:
“Não acredito no que eu ouvi hoje (…) a Defensoria deveria ter vergonha na cara.”
Uma fala forte, né? Isso mostra o quanto o tema mexe com as emoções de quem acompanha de perto essa luta por justiça.
Defensoria e Vale lado a lado?
Ao concordar com a tese da Vale, a Defensoria se afastou de outras instituições que defendem os atingidos. Um exemplo é o Ministério Público Federal (MPF), que se posicionou de forma totalmente contrária.
O Subprocurador-Geral da República, Antonio Carlos Bigonha, foi claro:
“Contratos são assinados para serem cumpridos. O termo tem todos os elementos para ser considerado um título executivo.”
Ou seja, para o MPF, o documento deveria sim ter força para garantir que as vítimas recebam suas indenizações sem tanta burocracia.
Afinal, o que a Vale quer?
A mineradora Vale defende que esse termo não seja usado como base direta para processos judiciais. Ela afirma que o documento serve apenas como um ponto de partida para negociações, e não como uma obrigação legal de pagamento.
Na prática, isso daria à empresa mais controle sobre quem vai receber, quanto vai receber e em que condições.
Mas do outro lado, entidades como a Avabrum (Associação dos Familiares de Vítimas de Brumadinho) defendem que reconhecer o termo como título executivo é essencial para garantir justiça.
Eles lembram que muitos familiares ainda não conseguiram receber nada ou enfrentam dificuldades enormes para isso. Segundo a Avabrum, só com a força legal do termo é que essas pessoas terão mais chances reais de reparação.
Situação nos tribunais ainda está indefinida
Como as decisões nas instâncias inferiores têm sido bem diferentes, o caso chegou ao STJ para que haja um entendimento único e claro.
Num dos processos, por exemplo, a Justiça do Rio de Janeiro rejeitou o pedido de indenização feito com base no termo, dizendo que a vítima não tinha esse direito. Mas depois, o próprio Tribunal de Justiça do Rio voltou atrás e reconheceu que a vítima podia sim exigir o cumprimento do acordo.
Essa confusão toda fez o STJ adotar o chamado Incidente de Assunção de Competência, que é um jeito de dizer: “Esse assunto é importante demais. Vamos dar uma resposta definitiva.”
O julgamento continua… mas sem data para acabar
Com o pedido de vista da ministra Nancy Andrighi — ou seja, mais tempo para analisar o caso com calma — o julgamento está suspenso. E, por enquanto, não há previsão de quando será retomado.
A decisão final do STJ será determinante para definir se as vítimas da tragédia poderão usar o termo como base para exigir suas indenizações na Justiça.
Por que isso importa tanto?
A tragédia de Brumadinho não foi apenas uma catástrofe ambiental. Ela destruiu famílias, sonhos, casas, comunidades inteiras.
O mínimo que se espera é que essas pessoas tenham o direito real de serem indenizadas, sem enfrentar um novo calvário judicial. Quando até mesmo a Defensoria — que deveria estar ao lado dessas pessoas — se posiciona a favor da empresa, é natural que surjam questionamentos e indignação.
E vamos combinar: mais de quatro anos após o rompimento da barragem, já passou da hora de garantir um caminho claro para as vítimas serem reparadas de forma justa.
E a Defensoria, o que diz?
A Defensoria de MG afirma que o objetivo do termo sempre foi facilitar acordos fora da Justiça. Para eles, o documento serve como um guia, e não como uma sentença obrigando a Vale a pagar.
Segundo o órgão, o termo foi uma forma de dar mais equilíbrio na negociação entre uma gigante como a Vale e os atingidos, que muitas vezes nem sabem por onde começar a buscar seus direitos.
Eles também disseram que já foram pagos R$ 2,4 bilhões em indenizações a mais de 13 mil pessoas até outubro de 2024, sendo R$ 1,5 bilhão só em Brumadinho. Mas mesmo com esses números, muitas pessoas ainda estão esperando ou enfrentando dificuldades para receber.
O que esperar daqui pra frente?
A decisão do STJ pode abrir caminho para que cada vítima entre na Justiça com mais segurança. Se o termo for reconhecido como título executivo, a mineradora não poderá mais fugir da responsabilidade com desculpas burocráticas.
Por outro lado, se o tribunal decidir que o documento não tem esse peso, muita gente vai continuar dependendo de acordos longos, complicados e, muitas vezes, injustos.
E você, o que acha? Um acordo assinado por uma empresa que matou centenas de pessoas e destruiu cidades inteiras deveria ser apenas uma promessa… ou um compromisso legal de verdade?
Fonte: ofator
O debate sobre a validade do termo de compromisso firmado em 2019 tem abrangência nacional. Foto: Agência Brasil
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